Campo Grande-MS
sábado, 5/10/2024

Pesquisa do jornalista Sergio Cruz, do IHGMS

Procedente de Corumbá, à frente de cerca de 2000 homens, Generoso Ponce toma Cuiabá e põe o governador Antonio Paes de Barros em fuga, refugiando-se com alguns companheiros nas proximidades da fábrica de pólvora no Coxipó.

Pela madrugada de 6 de julho, sitiam o reduto onde lobrigaram indícios de acampamento suspeito.
Gisam meio de prender, ao clarear do dia, os seus ocupantes, sem que pudesse nenhum escapar. Antes de completar as providências, o disparo de um tiro imprudentemente desfechado do interior do capão, provocou a descarga cerrada dos atacantes e a dispersão da comitiva presidencial. Cada qual procurou-se sumir-se pelas sombras protetoras das árvores, evitando os lados de onde vinha a fuzilaria ameaçadora. Como os seus companheiros A. Paes também se levantou para tentar a evasão. Mas, desnorteado, saiu por uma clareira, onde se destacou o vulto para as pontarias fulminantes.
Antes que alcançasse a mata fronteira baqueou, mortalmente ferido, conforme noticiou o ofício que o vice-presidente em exercício mandou, por cópia ao General Dantas Barreto. (FILHO, 1935, p. 59).

          Dois dias depois de sua morte, o Correio da Manhã, do Rio, dava em editorial uma versão bem menos branda:

Podemos afirmar que é verdadeira a notícia chegada ontem de Mato Grosso da supressão violenta e criminosa do sr.coronel Antonio Paes de Barros, feita pelos chefes da revolução naquele estado.

O coronel Totó Paes, julgando impossível resistir à invasão das forças adversárias, tratou de retirar-se da capital em companhia de alguns poucos amigos fiéis.

No encalço do presidente e de sua pequena comitiva os chefes revolucionários mandaram uma escolta que logrou apanhar o grupo dos fugitivos. O sr. Antonio Paes de Barros foi passado pelas armas sem misericórdia nem piedade, num assomo de barbaridade revoltante. E a sinistra empreitada completou-se pelo aprisionamento dos amigos do presidente assassinado. O plano dos revolucionários estava claro. Os seus resultados provam-nos exuberantemente. O vice-presidente pertence à parcialidade da coligação Ponce-Murtinho. E agora o governo federal não pode mais intervir desde que a sucessão do sr. Antonio Paes de Barros se operou na forma prevista pela lei. O caudilho assassinado tão covardemente pagou com a vida, resgatando-os, todos os graves erros da sua sangrenta política, para a qual foi lançado pela família Murtinho, afim de servir às ambições trêfegas de mando desses senhores feudais. A família Murtinho recompensou os serviços prestados em 1899 à sua causa pelo comandante da implacável Legião Campos Salles, com o assassinato.

O coronel Generoso Ponce que agora está sendo para com a família Murtinho o que há sete anos fora para ela mártir de ontem, deve precaver-se enquanto é tempo.

A lógica dos srs. Murtinho é afiada como o gume duma faca. E ela não hesita ante o crime como não vacila ante a traição.A primeira vitória do bloco é, assim, salpicada de sangue. A hora trágica começa. (CORREIO DA MANHÃ 08/07/1906).

Totó Paes chegou ao poder em 1899, após o racha entre Generoso Ponce e os irmãos Murtinhos, com apoio destes. No Sul de Mato Grosso seu principal inimigo foi o cel. Jango Mascarenhas, de Nioaque. Na região, durante seu mandato, depois da morte de Jango e da submissão de grupos de oposição, o seu governo foi razoavelmente tranquilo.

FONTE: Virgílio Correa Filho, A República em Mato Grosso (II) in Revista do Instituto Histórico de Mato Grosso, Cuiabá, 1935, página 59.